quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Agradeço aos alunos do 3º ano do Curso de Formação de Docentes do Colégio Estadual Nilo Cairo, município de Apucarana, por terem colaborado com minha pesquisa.



SEQUÊNCIA DIDÁTICA BÁSICA DE LETRAMENTO LITERÁRIO

Para Cosson, a sequência básica de letramento literário é constituída por quatro passos: motivação, introdução, leitura e interpretação.

1) Motivação: É o núcleo de preparação do aluno para entrar no texto (encontro leitor e obra sem silenciá-los). A construção de uma situação em que os alunos devem responder a uma questão ou posicionar-se diante de um tema é uma das maneiras usuais da construção da motivação (COSSON, 2012, p. 55). A motivação pode ser por meio da leitura, da oralidade e da escrita ou até de um “avatar” [grifos nossos], no entanto não deve ultrapassar o trabalho de uma aula.

2) Introdução: É o momento de apresentação do autor e da obra. No entanto, essa biografia deve ser breve, pois entre outros contextos ela é uma das que acompanham o texto. No momento da introdução é suficiente que se forneçam informações básicas sobre o autor e, se possível, ligadas àquele texto (COSSON, 2012, p. 60). É preciso falar da obra e de sua importância, justificando assim a escolha. Mostrar a obra física ou até seu “avatar” no suporte digital [grifos nossos], chamando a atenção para a capa, a contracapa, a orelha, o prefácio e outros elementos paratextuais que introduzem a obra.

3) Leitura: Etapa essencial da proposta de letramento literário, o acompanhamento da leitura (diagnóstico). A leitura escolar precisa de acompanhamento porque tem uma direção, um objetivo a cumprir, e esse objetivo não deve ser perdido de vista (COSSON, 2012, p. 62). O professor não deve vigiar o aluno para saber se ele está lendo o livro impresso e/ou digital [grifos nossos], mas sim acompanhar o processo de leitura para auxiliá-lo em suas dificuldades, inclusive aquelas relativas ao ritmo da leitura (p. 62). O autor propõe que se o livro for extenso que a leitura possa acontecer em sala, em casa, na biblioteca ou até em suporte digital [grifos nossos], porém faz-se necessário trabalhar com os intervalos de leitura, ou seja, com momentos de reflexão e parada que pode ocorrer por meio de uma conversa, desenvolvimento de atividades específicas sobre um capítulo ou pela incorporação de outros textos que promovam a intertextualidade com a obra. A observação de dificuldades específicas enfrentadas por um aluno no intervalo é o início de uma intervenção eficiente na formação de leitor daquele aluno (p. 64).


4) Interpretação: É o momento de construção dos sentidos, por meio de inferências que envolvem o autor, o leitor e a comunidade. Para Cosson (2012, p. 64), a interpretação envolve práticas e postulados numerosos e impossíveis de serem conciliados, pois toda reflexão literária traz implícita ou explicitamente uma concepção do que seja interpretação ou de como se deve proceder para interpretar textos literários. Essas interpretações acontecem em dois momentos: um interior (que passa pela decifração/pelo íntimo, por meio da história de leitor do aluno, das relações familiares e tudo que constitui o contexto de leitura) e o outro exterior (quando ocorre a materialização da interpretação como ato de construção de sentido em uma determinada comunidade, por meio compartilhamento da interpretação com os colegas e professor). As atividades de interpretação devem ter como princípio a externalização da leitura, isto é, seu registro (p. 66). É aqui que se propõe um trabalho de letramento digital [grifos nossos], para que os alunos possam exteriorizar o que compreenderam, por meio da exposição de seus registros (desenho, resenha, paródia, vídeo, fotografia, escrita, artes plásticas, expressão corporal entre outros) em um Blog Literário.

COSSON, R. Letramento Literário: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2012.


1º PASSO: MOTIVAÇÃO

1º Passo: Motivação



HOJE, NÓS VAMOS CONHECER A HISTÓRIA DO CASAMENTO DE UMA PRINCESA... COMO VOCÊS IMAGINAM QUE ELA É?

Deixar que as crianças participem espontaneamente e caracterizem a personagem, logo após mostrar a imagem de uma princesa africana.
Novamente pedir que caracterizem como essa princesa é.

Figura 2 – Princesa Africana


Fonte: Acervo Particular 2014

2º PASSO: INTRODUÇÃO

2º Passo: Introdução


VAMOS CONHECER QUEM SÃO: O AUTOR E A ILUSTRADORA DO LIVRO “O CASAMENTO DA PRINCESA”?
CELSO SISTO
SIMONE MATIAS
Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, crítico de literatura infantil e juvenil, especialista em literatura infantil e juvenil, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutor em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e responsável pela formação de inúmeros grupos de contadores de histórias espalhados pelo país. Tem 60 livros publicados para crianças e jovens e já recebeu vários prêmios pela qualidade de sua obra, dentre eles o prêmio de autor revelação (FNLIJ, 1994), ilustrador revelação (FNLIJ, 1999), melhor livro infantil (Açorianos, 2011) e livro do ano (Açorianos 2011).


 Fonte: <http://www.celsosisto.com/?pg=3601>. Acesso em: 20 jun. 2014.
Nasceu em 1975 e é natural de Santos, São Paulo. Já fez muitas coisas, formou-se em Jornalismo, foi vendedora, tradutora e professora de inglês. Foi como babá nos Estados Unidos que descobriu a ilustração infantil. Tomava conta de três crianças e elas tinham muitos livros. Enquanto lia as histórias para elas, foi se apaixonando pelos lindos desenhos e descobriu que desenhar e pintar poderiam ser mais que um hobby. Estudou desenho e pintura nos EUA, no Brasil e ilustração na Itália. Ilustrou seu primeiro livro em 2006 e agora realiza seu sonho todos os dias.



Fonte: <http://www.simonematias.com.br/>. Acesso em: 20 jun. 2014.

CAPA E CONTRACAPA

OBSERVE ATENTAMENTE A CAPA E A CONTRACAPA DO LIVRO E CONVERSE COM O PROFESSOR:
Figura 3 – Capa do Livro: O Casamento da Princesa

Fonte: Acervo Particular 2014
Figura 4 – Contracapa do Livro: O Casamento da Princesa

Fonte: Acervo Particular 2014

2º PASSO: INTRODUÇÃO

A obra “O Casamento da Princesa” foi escolhida para o trabalho com a Educação Infantil e/ou Anos Finais do Ensino Fundamental por ser a adaptação de um conto popular originário da África Ocidental, no qual a linda princesa Abena, do povo Akan, é disputada por seus pretendentes: o Fogo e a Chuva. O rei decide que o casamento deve ser realizado durante a colheita do cacau.  A capa e a contracapa do livro trazem vários ícones da cultura africana, estimulando assim a curiosidade e o desejo da leitura.
O professor deve aproveitar esse momento para valorizar a beleza da princesa Abena (pescoço alongado, rosto arredondado e seios grandes, colorido das roupas, fulgurantes colares e brincos: a mais nobre visão da beleza).


Além de fazer os alunos observarem os elementos paratextuais: o nome da editora, o código de barras com o ISBN (aproveitar e explicar para os alunos qual a função do ISBN: sistema que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país e a editora, individualizando-os inclusive por edição), ficha catalográfica para consulta biblioteca entre outros.

Desde muito cedo, pode-se ir orientando as crianças, pois essas informações também fazem parte do processo de letramento literário.

3º PASSO: LEITURA

3º Passo: Leitura

As crianças da Educação Infantil gostam de realizar pseudoleituras, ou seja, leem a história por meio das ilustrações e criam o enredo, sendo essa uma das possibilidades de concretizarem essa etapa. No entanto, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental o professor pedir que os alunos realizem a leitura silenciosa da história para que possam atribuir significado à narrativa. Em ambos os casos, o professor pode promover intervalos de leitura, ou seja momentos de mediação, no intuito de observar e tentar sanar as dificuldades enfrentadas.
No caso do livro “O Casamento da Princesa”, o professor também pode se tornar o “GRIÔ” das crianças e ler ou contar a história que está no livro. A palavra “griô”, dizem, deriva da transliteração para o francês (guiriot) da palavra portuguesa “criado” (SISTO, 2010, p. 11).

QUEM SÃO OS “GRIÔS”?
Os griôs são bibliotecas vivas da tradição oral de vários povos africanos. 
No continente africano, um griô nasce griô, seu ofício não é escolhido, 
relaciona-se a uma herança e à sua origem. 
Quando nasce um griô, a ele são atribuídos direitos e deveres, 
ele é responsável por guardar e transmitir a história do seu povo. 
Quando um griô morre, diz-se que uma biblioteca se foi, 
porque ele carrega consigo a sabedoria e as tradições desse povo. 
É por meio da tradição oral que o griô transmite às novas gerações o que sabe, 
especialmente às crianças. 
Existem mulheres e homens que são griôs e griotes. 
Além das tradições de seu povo, 
essas pessoas conhecem o som dos animais, 
dos grandes aos pequenos, das cigarras 
aos elefantes.